18/01/2011

Socorro, as vovós sumiram

Céus! De repente, me dou conta de que as vovós estão morrendo. Não no sentido do óbito inevitável a qualquer ser humano, mas como instituição de nossas rotinas familiares e de nossas fantasias mais pueris. Me dei conta que as vovós são uma espécie em extinção. Não estou falando simplesmente da mãe de nossos pais, me refiro àquela doce avozinha, senhora cheia de virtudes e sapiência, que enrolada em seu chale, não hesitava em nos dar exemplos de retidão e lisura de princípios. Falo daquela encantadora velhinha sempre pronta a nos acolher no colo e no fartar de quitutes, que só elas sabem fazer...


Estou divagando sobre o paradeiro daquelas vetustas fadas disfarçadas de membros de família, que povoavam os nossos sonhos e nos enchiam de mimos, prontas a saciar nossas carências afetivas de infância e adolescência. Onde elas foram parar? Parecem que tomaram chá de sumiço. 

Agora elas são bem diferentes. A maioria não convence e nem faz questão de convencer no papel de mãe com açúcar. Perdoem-me os arautos da moralidade, os defensores das eternas ilusões, mas as avós do século 21 são uma brasa, mora. Não tentem negar, pois muitas mandaram tudo para o inferno, deram no mínimo uns peguinhas na juventude, beberam todas, cheiraram lança-perfume, adoraram curtir uma festinha de arromba e infernizaram a vida dos pais com suas mini saias e biquínis de helanca. É ou não é verdade? Queiram ou não, estes sãos os antecedentes desta geração de que está surgindo. 

Longe vão os tempos em que a abnegada Chapeuzinho Vermelho corria um risco danado atravessando a floresta para levar uns doces para a vovozinha, coitada, que vivia isolada naquela cabana no mato. Aliás, por que os pais da menina mantinham a velhota à distância, mesmo sabendo que ela não ia bem de saúde? Sem falar daquele lobo que vivia rondando a casa. E a adorável Dona Anastácia do Sítio do Pica-Pau Amarelo, onde terá ido parar? E a vovó Donalda com suas deliciosas tortas de maçãs? 

Definitivamente, os tempo são outros. Ser avó é uma outra história, bem mais complexa. Nos dias atuais quem quiser montar um cestinho de agrados para a vovó pode ir se preparando, porque elas querem doces só diets, um kit de congelados, um licorzinho ou uma cachacinha cai bem. Inclua ainda uma cartela de Lexotan, pois vovó agora dorme mal, um tênis e uma malha para suas caminhadas de fim de tarde e, talvez, uma assinatura da Revista G Magazine, muitos cremes hidratantes e depilatórios. Ah, não esqueçam de uma caixa de preservativos, afinal, se a vovó é viúva, nunca se sabe.



Por Juarez Porto



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